sábado, 6 de setembro de 2014

Natividade de Nossa Senhora


"Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria? Vede o para que nasceu. Nasceu para que dEla nascesse Deus. (...) Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde;perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança..aos pecadores todos, para Senhora da Graça. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus" (Sermão do Nascimento da Mãe de Deus – Pe. Antônio Vieira).              
                Norteados pelas palavras do célebre padre Antônio Vieira, podemos perceber que cada Cristão católico carrega em sim um especial sentido para o nascimento de Maria. Pois por ser uma de nós, ou seja, humana, verdadeiramente humana, encontrou uma graça especial diante dos olhos de Deus. Um zelo tão inefável, que não se ateve apenas no momento em que o Anjo viria a revelar sua missão de gerar o Filho de Deus.
                Maria desde toda eternidade já estava no projeto de Deus para salvação da humanidade. Projeto este que Deus veio durante todo sempre cuidando com especial atenção. Buscando mostrar, aos seus escolhidos, que foram preparados, desde sempre, para que pudessem, no tempo oportuno, responder ao seu chamado.
                Assim foi esta preparação com a virgem Maria, desde a sua concepção Deus veio moldado sua história para que pudesse compreender o que mais tarde lhe iria acontecer. Se tomarmos os evangelhos apócrifos que narram a historia da natividade de Maria, perceberemos que ela nasce de um lar improvável para com a realidade humana, mas não para a graça de Deus.
Joaquim era o nome do pai de Maria. Ele era um homem rico e muito piedoso. Descendente da Tribo de Judá, Joaquim casou-se com Ana, filha de Acar, também de sua tribo, quando tinha 20 anos. Passados outros 20 anos, o casal não teve filhos. Ana era considerada estéril...(proto – evangelho de Tiago 1,2).
                O casal Joaquim e Ana, passaram por diversas dificuldades que podemos perceber na narrativa de alguns Evangelhos apócrifos. Porém mesmo nas dificuldades, Ana não perdeu a confiança em Deus, mesmo quando fora abandonada por Joaquim por causa de sua esterilidade. Muito pelo contrário, tomou o sofrimento como incentivo para se encontrar com Deus por meio de suas orações.
                Depois da Oração de Ana um anjo do Senhor aparece e lhe diz que sua oração tinha sido ouvida por Deus e que ela conceberia e daria a luz e, em toda a terra, se falaria de sua descendência.
                Ao dar a luz, conforme o Proto – Evangelho de Tiago, Ana perguntou a parteira: “a quem dei a Luz? A parteira respondeu: uma filha! E Ana exclamou: Hoje minha alma foi enaltecida. E deitou a Criança. Quando se completaram os dias prescritos pela lei, Ana fez as purificações do parto, deu peito à criança e pôs-lhe o nome de Maria.
                Percebendo a ação de Deus na vida de Ana e Joaquim, nos torna claro que Deus não mede esforços para que seus desígnios sejam cumpridos. E principalmente, utiliza de caminhos mais difíceis, para que possamos perceber que Ele se faz constantemente presente na vida da humanidade, não ficando alheio ao sofrimento do seu povo, mas o convoca constantemente a voltar para junto dele.
Deus para selar definitivamente sua aliança com seu povo utiliza da sua própria criatura para gerar seu Filho no seio da humanidade.  
Diante desta realidade podemos usar das palavras de São João Damasceno por ocasião das festividades da Santíssima Virgem e proclamarmos juntos que “Hoje é o começo da Salvação do mundo, porque na Santa probática  foi nos gerada a Mãe de Deus através de quem o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo nos foi gerado.
O nascimento de Maria Santíssima traz ao mundo o anúncio jubiloso de uma boa nova: a Mãe do Salvador já está entre nós. Ele é o alvorecer prenunciativo de nossa salvação, o início histórico da obra da Redenção.
Deus, antes que o homem caísse, previu a sua queda e decidiu, antes dos séculos, a redenção humana. Decidiu Ele encarnar-se em Maria. Hoje é o dia em que Deus começa a pôr em prática o seu plano eterno, pois era necessário que se construísse a casa, antes que o Rei descesse para habitá-la. Casa linda, porque, se a Sabedoria constrói uma casa com sete colunas trabalhadas, este palácio de Maria está alicerçado nos sete dons do Espírito Santo. Salomão celebrou de modo soleníssimo a inauguração de um templo de pedra. Como celebraremos o nascimento de Maria, templo do Verbo encarnado?





Santo Afonso de Ligório, por sua vez, comenta: "A nossa celeste menina, tanto por causa de seu ofício de medianeira do mundo, como em vista de sua vocação para Mãe do Redentor,  recebeu, desde o primeiro instante de sua vida, graça mais abundante que a de todos os Santos reunidos. E que admirável espetáculo para o Céu e para a Terra, não seria a alma dessa bem-aventurada menina, encerrada ainda no seio de sua mãe! Era a criatura mais amável aos olhos de Deus, pois que, já cumulada de graças e méritos, podia dizer: 'Quando era pequenina agradei ao Altíssimo'. E ao mesmo tempo era a criatura mais amante de Deus, de quantas até então haviam existido.

 Benjamim M. de Assis Junior Instituto Teológico Rainha dos Apostolos.




                                                  

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Um apelo dramático. Carta das Irmãs Dominicanas do Iraque


Queridos,
Continuamos a compartilhar com vocês a nossa luta diária, esperando que o nosso grito alcance o mundo. Somos como o cego de Jericó (Mc 10, 46-52), que não tinha outro modo de expressar-se, mas a sua voz, clamando a Jesus por misericórdia. Embora algumas pessoas tivessem ignorado sua voz, outras ouviram-na e lhe ajudaram. Contamos com as pessoas que irão ouvir!
Entramos na terceira semana de desocupação. As coisas estão andando muito devagar em termos de fornecimento de abrigo, alimentação e necessidades para o povo. Ainda há pessoas vivendo nas ruas. Ainda não há acampamentos organizados em volta das escolas que são usadas ​​como centros de refugiados. Um edifício inacabado de três andares também tem sido usado como um centro de refugiados. Por razões de privacidade, as famílias fizeram quartos usando lonas de plástico fornecidas pela agência de refugiados das Nações Unidas nesses edifícios inacabados. Estes locais parecem estábulos.
Todos nós nos perguntamos, tem um fim à vista? Estamos agradecidos por todos os esforços feitos para fornecer ajuda às pessoas desalojadas. No entanto, por favor, notem que o fornecimento de comida e abrigo não é a única coisa essencial de que precisamos. Nosso problema é muito maior. Estamos falando de duas minorias (cristãos e iazidis) que perderam suas terras, suas casas, seus pertences, seus empregos, seu dinheiro; alguns foram separados de suas famílias e entes queridos, e todos são perseguidos por causa da sua religião.
Nossos líderes religiosos estão fazendo o máximo para resolver o problema. Eles se reuniram com líderes políticos, com o presidente do Iraque e do Curdistão, mas as iniciativas e ações desses líderes políticos são muito lentas e modestas. Na verdade, todas as reuniões políticas não levaram a nada. Até agora, nenhuma decisão foi tomada sobre a atual situação das minorias refugiadas. Por esta razão, a confiança nos líderes políticos diminuiu, se é que ela ainda existe. As pessoas não conseguem mais tolerar. É um fardo muito pesado. Ontem, um jovem expressou que ele preferia morrer a viver sem dignidade. As pessoas sentem que a sua dignidade lhes foi extirpada. Estamos sendo perseguidos por causa da nossa religião. Nenhum de nós jamais pensou que iríamos viver em campos de refugiados por causa disso.
É difícil acreditar que isso esteja acontecendo no século XXI. Gostaríamos de saber o que está acontecendo exatamente. É um outro plano ou acordo para subdividir o Iraque? Se isso é verdade, por quem e por quê? Por que os eventos da divisão do Oriente Médio, que aconteceram em 1916, estão se repetindo agora? Naquele tempo era uma questão política e inocentes pagaram por isso. É evidente que há pessoas pecaminosamente astutas dividindo o Iraque, agora. Em 1916, perdemos sete de nossas irmãs, muitos cristãos morreram, e muitos outros se dispersaram. É apenas por acaso que novamente enfrentamos essa divisão ou ela é deliberada?
No entanto, a luta não é só nos campos de refugiados. O que aconteceu em nossas cidades cristãs, que foram evacuadas, é ainda pior. O Estado Islâmico (IS) forçou a saída de suas casas de todos aqueles que não deixassem suas cidades até a noite de 6 de agosto. Ontem, setenta e duas pessoas foram expulsas de Karakosh. No entanto, nem todos eles chegaram; aqueles que chegaram ontem à noite estavam em condições miseráveis. Eles tiveram que atravessar o rio Al-Khazi (um afluente do Grande Zab) a pé porque a ponte havia sido destruída. Ainda há um bom número do outro lado da margem do rio. Não sabemos quando eles vão conseguir chegar a Erbil. Depende da situação e das negociações entre os curdos e o Estado Islâmico. Algumas pessoas foram buscar os idosos e aqueles incapazes de andar. Uma de nossas irmãs foi buscar seus pais, e contou sua história. Outra mulher disse que ela foi separada de seu marido e dos filhos, e ela não sabe mais nada deles; eles estão, provavelmente, entre aqueles que estão no outro lado do rio, ou eles podem estar entre os reféns tomados pelo Estado Islâmico. Além disso, uma menina de três anos de idade foi pega do colo de sua mãe e não se tem notícias dela. Não sabemos por que o IS está expulsando as pessoas de Karakosh, mas temos ouvido de quem acabou de chegar que os militantes do IS estão levando barris para Karakosh e os conteúdos são desconhecidos.
Além disso, sabemos de quatro famílias cristãs que estão presas em Sinjar há mais de três semanas; eles provavelmente estão ficando sem comida e água. Se eles não receberem ajuda, vão morrer lá. No momento, não há nenhum contato com eles, e não há nenhuma maneira de negociar com o IS.
Quanto à nossa comunidade, sabemos que o nosso convento em Tel Kaif está sendo usado como uma sede do Estado Islâmico. Além disso, sabemos que eles entraram em nosso convento de Karakosh. Aqueles que chegaram recentemente disseram que todas as imagens, ícones e estátuas foram destruídas. Cruzes foram retiradas do topo das igrejas e substituídas pelas bandeiras do IS. Isso não acontece somente em Karakosh e em Tel Kaif. Em Baqofa, uma de nossas irmãs ficou sabendo que a situação estava calma, então ela voltou com algumas poucas pessoas para buscar remédios. Ela encontrou o convento todo revirado; tudo foi aberto e todas as coisas espalhadas pelas peças. Na hora em que entraram no convento, três bombas atingiram a cidade. Eles sairam imediatamente.
Além do que está acontecendo com os cristãos, ontem, sexta-feira, dia 22, um homem-bomba xiita e homens armados atacaram a mesquita sunita de Abou Mussab em uma vila que está sob o controle do governo iraquiano na província de Diyala, deixando 68 mortos. É de partir o coração saber que pessoas estão sendo mortas enquanto estão rezando. Em termos da mídia e da liberação de notícias, esse massacre tem ofuscado o que está acontecendo com os cristãos na planície de Nínive. Temos medo de que nossa luta se torne apenas o nosso próprio problema e não tenha um impacto a mais no mundo.
Por fim, temos a dizer que as pessoas estão perdendo a paciência. Elas sentem falta de tudo de suas cidades de origem: as igrejas, os sinos das igrejas, suas ruas e seus bairros. É penoso para elas ouvirem que suas casas foram saqueadas. Embora eles amem suas cidades, a maioria das pessoas já está pensando em deixar o país para que possam viver com dignidade e ter um futuro para seus filhos. É difícil ter esperança no Iraque ou confiar na liderança do país.
Por favor, lembrem-se de nós em suas orações.
Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Siena - Iraque

O texto a cima foi publicado na página do Facebook, Help for the Iraqi Dominican Sisters. A tradução é de Claudia Sbardelotto.